03/10/2020
Imigrantes armênios em Penápolis e no mundo - relações com a guerra atual
Quem não conhece alguém com o sobrenome terminado em -ian? a atriz Aracy Balabanian, Boghossian, Gasparian e até mesmo a polêmica família Kardashian. Esse sufixo -ian em armênio significa “filho de” ou “procedente de uma determinada região”. Assim, muitas famílias, alguns anos depois da diáspora armênia - muitas vezes para esquecer os tempos difíceis que viveram em guerra, se afastaram de suas origens e alguns nem mesmo sabem que o seu nome carrega uma história milenar.
Eu não imaginava quando, nas primeiras aulas que fiz de língua armênia e de cultura armênia com as professoras Lusine Yeghiazarian e Deize Crespim, na USP, olharia para a praça que brinquei em Penápolis quando criança (que até então conhecia como Praça dos Camelôs) e lesse recentemente que o nome da praça foi dedicado aos imigrantes sobreviventes do genocídio armênio e se chama Praça Armênia.
Breve percurso histórico
A Armênia é um país localizado entre a Ásia e Europa, na região do Cáucaso. Uma região montanhosa e rica em pedras. Os armênios brincam que Deus, depois de construir o mundo, colocou todas as pedras que restaram na Armênia. O país tem como símbolo o monte Ararat, no qual, segundo a Bíblia, teria parado a Arca de Noé. O Ararat ainda é o símbolo do país, mas hoje pertence à Turquia. E isso nos diz muito sobre como os armênios de Penápolis também vieram parar aqui.
O pequeno território do qual falamos, teve sua independência em 1990, formando a atual República da Armênia ou (Hayastan, como se autodenominam/ @aua}nav).
Estamos falando de um povo que desde a Antiguidade foi marcado pela ameaça de ser incorporado por dois grandes impérios, de um lado, Roma; de outro, o Império Persa. Foi nesse contexto que a Armênia foi o primeiro Estado no mundo a adotar o cristianismo como religião oficial (entre 301 e 314 d.C). A religião trouxe unidade e identidade comum ao povo que, logo depois criou seu próprio alfabeto e produziu uma das mais importantes traduções da Bíblia - considerada a “Rainha das Traduções”.
Assim, esse território passou por diferentes transformações políticas, sociais, culturais até que, em 1915, a Armênia passou por um dos mais terríveis episódios da HIstória, um genocídio perpetrado pelo Império Turco otomano que matou mais de um milhão e meio de pessoas. Foi nesse contexto que muitos armênios deixaram o país e chegaram a diferentes lugares do mundo - inclusive Penápolis.
Em 1920 a República da Armênia passou a integrar a União Soviética o que, por algum momento, fez com que o povo ficasse “protegido”, com sistema de saúde de qualidade, educação bilíngue e serviços públicos gratuitos a toda a população. Até que veio a corrupção, os subornos e a falta de liberdade de expressão. Nesse contexto, a propaganda de uma República próspera atraiu muitos armênios que se repatriaram no país. Com todos os problemas que encontraram e, sobretudo a falta da liberdade de expressão, combinavam com seus parentes que ficaram no país estrangeiro que mandariam sinais como uma foto com a família: se estivessem todos de pé, estava tudo bem, se estivessem sentados, não estava tão bem assim, se estivessem deitados…
Com a dissolução da União Soviética e a independência recente da República da Armênia em 1991, o país continuou com muitos conflitos para manter seu território, cultura e soberania.
A guerra atual com o Azerbaijão
Há um território chamado Nagorno Karabakh, com predominância de população armênia (falam língua armênia, tem cultura e etnicidade armênia) localizado dentro do país Azerbaijão. O povo de Nagorno Karabakh busca, desde conflitos pós-guerra fria, independência em relação aos azeris.
Os conflitos sempre existentes, foram durante anos mediados pelo grupo de Minsk da OSCE (desde 1992) e um cessar-fogo estabelecido por três co-presidentes que fazem parte do grupo: EUA, França e Rússia (1994).
No entanto, como o Azerbaijão é um grande exportador de petróleo, diante da pandemia do coronavírus, o país teve queda significativa em sua economia, o interesse em tomar, de fato, Nagorno Karabakh dos armênios que ali vivem se intensificou nos últimos dias e iniciou-se um novo conflito bélico fortemente apoiado pelo governo da Turquia - o mesmo que promoveu o genocídio armênio, que levou a a população armênia a grande diáspora, que chegou até aqui, em nossa cidade, no nome de uma de nossas praças mais centrais. O conflito já matou centenas de militares e civis. Entre eles crianças, idosos, mulheres. Termino esse percurso com a frase que Hitler usou para justificar o início do holocausto, quando questionado sobre como o mundo veria essa matança sistemática como uma política de Estado: “e quem se lembra do genocídio armênio”?
Tiago Viudes é escritor e artista penapolense. Desenvolve conteúdos culturais para o DIÁRIO DE PENÁPOLIS e veículos de comunicação da região. E-mail: tviudesb@gmail.com
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